terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Banhos

Não me venham dizer...eu sei. Foi a pior coisa que podia ter feito. Mais valia os "achaques" e "desvanecimentos" a isto...Resisti, como pude,  para mais de duas décadas...mas o phisico, desta vez, ameaçou-me com "definhamento acelerado", e a possibilidade de ter que abdicar das  empadinhas de leitão, dos jesuítas, dos pastelinhos de Sta Clara, das soirées...caso não anuísse. Era muito sacrifício...
De modos, que preparei dois fatos, uma sombrinha, merenda e rumei com a receita, a Paço D'Arcos, sem sequer ter coragem para a "reler", nem de relance...
Um erro, como verifiquei, assim que o banheiro, um selvagem de tronco nu, me tomou em baços e me submergiu nas águas geladas do oceano. Entrou-se-me areia nos olhos, água salgada nos ouvidos. As mãos congelaram-se-me a pontos de ainda hoje sentir um formigueiro de cada vez que tiro as luva. E os cabelos, meu Deus, os cabelos...os meus longos cabelos, esmeradamente empoados, ficaram-se numa rodilha que não me permitem saídas, mais do que umas fugazes, pela porta de serviço, a um jesuíta matinal à saída do forno, antes que os demais banhistas acordem.
Sendo que a prescrição é clara: duas submersões por dia durante uma penosa quinzena.
Pedi barraca, evidentemente, para trocar de fato e não me arriscar a uma pneumonia e à respectiva estadia em ares montanhosos, na contemplação das cabras com barbicha, em companhia do Thomas Mann, esse especialista de altitudes e maleitas. E não querem lá ver o que me deram...  isto, que acima reproduzo em imagem, para a qual mandei vir fotógrafo credenciado.
Não vejo a hora de retomar a minha vidinha no chiado...no terreiro...na Benárd...enquanto tal não me é possível, resisto como posso a esta maldita prescripção: dos banhos. E entro nesta espécie de soirée virtual com V. Ex.as, que vislumbro com o meu lorgnon,  a lerem com algum espanto, esta minha sui generis aventura nos mares gelados da nossa Pátria. É por uma boa causa diz o phisico: sempre me livro às bichas no Inverno, que me sangram até ao osso e me deixam inerte. Aliás deitei fora o frasco assim que pus o sapato ao areal. Foram-se ao mar, as sanguessugas.  Pode ser que o suguem todo e amanhã me livre do banho...